Marcação Entrevista: Gilberto Silva

Chegou fevereiro e com ele mais uma novidade do Marcação Cerrada para a temporada 2011. Terça-feira sim, terça-feira não, o blog vai trazer entrevistas com personalidades de alguma forma ligadas ao esporte. E não podíamos começar melhor. O entrevistado de hoje é Gilberto Silva.

O volante do Panathinaikos interrompeu a rotina na Grécia por alguns minutos para falar com exclusividade ao Marcação Cerrada. Mineiro de Lagoa da Prata, Gilberto falou sobre a carreira, o sucesso na Europa e na Seleção Brasileira (é o jogador de Minas Gerais que mais vezes vestiu a amarelinha). E aos 34 anos, revelou que o retorno ao Brasil não está distante.

Confiram:

Marcação Cerrada - Basta observar seu currículo para notar que sempre ficou muito tempo nos clubes por onde passou, criando raízes. Foi algo que aconteceu naturalmente ou uma escolha sua?

Gilberto Silva - Acho que aconteceu de uma forma natural, tranquila. Quando eu saí do Brasil, principalmente, foi quando passei mais tempo em um clube. Foram seis anos no Arsenal. Quando eu cheguei fiz um contrato de quatro anos e depois houve uma renovação. Aqui na Grécia, já é meu terceiro ano. É uma decisão que eu sempre procurei manter, mas tudo aconteceu de uma forma natural. Na verdade, nunca fui muito a favor de ficar saindo daqui para lá, carregando a casa nas costas. Gosto de permanecer muito tempo em cada clube para criar uma identificação.

MC - O que te levou a escolher jogar em um país onde a visibilidade não é tão grande como o grego?

GS - Depois de seis anos no Arsenal, não quis deixar o clube e ir para outra equipe da Inglaterra. Eu precisava sair do país depois deste período. Seria muito difícil, depois de tanto tempo. O Arsenal é uma equipe diferente, onde me identifiquei muito com o clube e o torcedor. Quando surgiu a oportunidade de vir para cá (Panathinaikos) eu tinha 31 anos e fiz um contrato de três anos. Isto foi um fator que pesou bastante na escolha. Ter segurança, um tempo maior de contrato. Mas o principal era estar em condições de continuar na seleção brasileira. Ainda tinha um ano de contrato no Arsenal, poderia cumpri-lo e aguardar o que viesse a acontecer depois. Mas na minha última temporada na Inglaterra (2007/2008) eu praticamente não joguei. Foi um período muito difícil para mim, inclusive na seleção, porque perdi muito da minha condição de jogo.

MC - E como foi a adaptação à Grécia?

GS - Foi super tranquilo, não houve dificuldade alguma, principalmente depois de seis anos na Inglaterra. A adaptação ao país, à cultura foi fácil, mesmo não falando grego. O fato de falar inglês ajudou bastante. Para mim foi muito mais fácil do que quando cheguei à Inglaterra.

MC - A sua primeira convocação para a seleção, em 2001 pegou muita gente de surpresa. E depois disso tudo aconteceu muito rápido, com você tornando-se titular do time pentacampeão (na Copa de 2002). Você esperava chegar tão rápido ao time?

GS - Não esperava, principalmente quando via os jogadores que ali estavam, todos consagrados e pelos quais eu tinha um enorme respeito. Tudo acontece a partir do momento que você tem oportunidade. As oportunidades apareceram para mim e eu fui abraçando tudo, não deixei escapar. Na seleção, as coisas acontecem desta forma: se você não aproveita a oportunidade ela pode passar e não voltar nunca mais. Eu procurei aproveitar tudo da melhor forma possível e o resultado não poderia ter sido melhor.

MC - Em nove anos, além de muitos recordes e o pentacampeonato com a seleção, você viveu momentos difíceis como as eliminações em 2006 e 2010. Qual foi o mais complicado?

GS - Sem dúvida, estes dois momentos são os mais dolorosos. Se você somar tudo isto, são oito anos de dedicação em busca de um objetivo maior que não foi alcançado. É muito tempo, muito sacrifício, muitas viagens e o sentimento de perda é algo muito duro, muito frustrante pra gente. Principalmente se tratando de seleção brasileira onde a cobrança é muito grande. As vezes, empatar não serve. Você precisa estar ganhando independente de quem foi o adversário, se o jogo foi difícil, da condição que a gente joga. Ninguém leva estas coisas em consideração. Você simplesmente tem que entrar em campo e ganhar, porque você é a seleção brasileira. Por tudo isto, estes foram os momentos mais dolorosos. Mas é importante saber que o trabalho foi feito da melhor forma possível, e se o resultado não aconteceu foi por algum detalhe, porque no dia a gente acabou não jogando o que precisava e errou em alguns detalhes.

MC - Como tem visto o início de trabalho do Mano Menezes na seleção?

GS - Vi poucos jogos até aqui, porque eles passam muito tarde. Acaba que vejo mais o que passa na imprensa, os comentários. É importante que ele tenha tranquilidade neste início. Na seleção, todo mundo quer o resultado de imediato e para que ele monte o time do jeito que tem que ser, com os jogadores que achar que tem que convocar é preciso conquistá-los. É importante que ele tenha estabilidade para fazer o trabalho dele. Começou bem e isto é importante no trabalho dele e da equipe também. Agora precisa dar sequência.

MC - Na última convocação o Mano convocou voltou a chamar alguns jogadores que estiveram no último Mundial e vinham ficando fora da relação. Você ainda pensa em voltar à seleção ou acha que seu ciclo chegou ao fim depois de 9 anos?

GS - Não penso que meu ciclo acabou na seleção brasileira. Enquanto eu estiver jogando futebol, bem fisicamente, em boas condições, não vou deixar de pensar na seleção brasileira. É o lugar que todo jogador quer estar e eu não sou diferente, mesmo depois de todos esses anos. Vou continuar trabalhando e se a oportunidade surgir, mesmo após esta renovação, tenho certeza que vou ter muito a contribuir com a seleção ainda.

MC - De seis em seis meses, aparecem especulações ligando você a algum time do Brasil. No ano passado, inclusive, chegou a ser noticiado um acerto seu com o Flamengo, em negócio que envolveria o Kléberson. Por que não deu certo?

GS - Realmente houve um contato com o Flamengo e eu cheguei a falar com o Zico, mas o Panathinaikos não liberou. Na visão deles eu era um jogador importante para as ambições do clube. Como ia disputar mais uma Champions League, não havia possibilidade de me liberar para outra equipe e o negócio acabou não dando certo. Nas últimas duas ou três semanas tenho visto muito estas especulações na imprensa. Mas não passam de boatos. Quando realmente acontecer alguma coisa, eu vou dar a notícia juntamente com minha assessoria. Acredito que pelo fato do Ronaldinho, Rivaldo, outros jogadores estarem voltando, a imprensa acabou colocando meu nome no meio, mas é só especulação.

MC - O seu contrato na Grécia chega ao fim no meio do ano. Acha que agora é hora de voltar ao Brasil?

GS - Tenho pensado muito em voltar. Eu ficaria muito feliz em ter a oportunidade de jogar novamente no meu país, disputar outro Campeonato Brasileiro, buscar mais conquistas. Ainda mais este ano, quando a competição está ficando ainda mais fortalecida, com muitos jogadores voltando. Além disso, depois de nove anos de europa, acho que já está na hora de voltar a ficar mais perto dos meus amigos, da minha família. Seria uma grande alegria para mim.

MC - E pela ligação, o Atlético-MG teria preferência neste possível retorno?

GS - Claro que é um clube pelo qual eu tenho um carinho enorme, até pela história que eu construí lá. Se tivesse a oportunidade de voltar a jogar no Atlético ficaria muito satisfeito. Mas é algo que não depende só de mim, depende de uma série de fatores. Se houver interesse do Atlético vou sentar com tranquilidade, conversar com o (Alexandre) Kalil e se for um negócio bom para todos os lados quem sabe aconteça. Não podemos esquecer que eu sou um jogador profissional e que tenho pessoas que dependem do meu trabalho, por isso vou analisar todas as propostas que tiver com carinho.

MC - Imagino que para um jogador de futebol, o fim da carreira deve ser o momento mais difícil. Aos 34 anos, você já faz planos para pendurar as chuteiras?

GS - Sem dúvida este é o momento mais difícil para todos os jogadores e eu já estou começando a conviver com este sentimento. Mas não fiz nenhum plano se vou jogar mais um ano, dois anos...Tenho a tranquilidade de ter boas condições físicas, nunca ter tido uma lesão mais grave e enquanto eu puder atuar de maneira que possa somar, buscar novas conquistas, o meu desejo é continuar em campo.

2 comentários:

Braulio "xuBs" disse...

Grande Gilberto Silva, um dos melhores volantes dos últimos tempos!
Ficou bem bacana a entrevista.

Agora ta perdido, toda terça vai ter que entrevistar alguém :)


Parabéns!

João Renato Faria disse...

Grande figura, Gilberto Silva. Mesmo já tendo conquistado muita coisa, continua sendo humilde e dedicado

Quadro Negro

Quadro Negro
O 4-2-3-1 do Fluminense. Pouca mobilidade do setor ofensivo é compensada com "tesão".

Marcação no Facebook

Marcadores Online

Marcação Arquivada

Desde Ago/2007

Marcação no Twitter