Marcação Entrevista: Lédio Carmona

O Marcação Cerrada sai do campo e vai para a cabine. A entrevista de hoje é com um dos comentaristas mais respeitados da televisão brasileira: Lédio Carmona, do SporTV.

Entre o trabalho, as corridas e claro, a novela, Lédio reservou um tempo para falar com exclusividade ao Marcação. Dono de um dos blogs esportivos mais acessados da rede (visita diária obrigatória e principal inspiração para este espaço), o carioca de Niterói falou sobre a carreira, redes sociais e claro, futebol.

Vejam:

Marcação Cerrada - Quando você decidiu que queria ser jornalista? Como foi o início da carreira?

Lédio Carmona - Na verdade, diz minha mãe que desde os 9 anos eu falei que ia ser jornalista esportivo. Comecei a acompanhar futebol em 74 e comecei a me encantar. Eu ouvia muito rádio, queria ser radialista. Comecei a me preparar. Lia a placar toda semana, não parava de ouvir rádio. Fui me interessando e ficando cada vez mais envolvido. Entrei na faculdade de jornalismo da PUC em 84 e continuava querendo ser radialista. Quando vi tinha arrumado um emprego no Jornal do Brasil, durante a copa de 86. Estavam lá João Saldanha, Sandro Moreira, Antônio Maria, muita gente boa. Aprendi muito lá. Fui pra Placar e quando eu achei que minha carreira era na mídia impressa, em 2000 fui convidado pela TV Globo. A vida foi mudando e quando eu vi, hoje sou comentarista do SporTV e estou feliz. Já até tentei não ser jornalista esportivo. Tentei ser assessor de imprensa mas não rolou. Eu gosto do que faço.

MC - Sente falta do dia-a-dia como repórter, da busca pela notícia?

LC - Eu não sinto muita falta de ficar correndo atrás da notícia não. Eu respeito cada um. Tem pessoas que tem a ânsia pela apuração e acho isso sensacional. Não é que eu tenha perdido. Eu já não sou viciado naquela coisa de ligar, apurar... Eu gosto de ser analista, de pesquisar, de buscar detalhes pra transmissão, acho que isso é muito legal. Confesso que eu não tenho muita paciência de ligar pra dirigente, pra treinador, ficar apurando. Tem pessoas que são completamente diferentes. São muito amigos meus, como o Paulo Vinicius Coelho (comentarista da ESPN), que é um cara que apura o tempo inteiro. Admiro ele, acho um cara espetacular. Já trabalhamos juntos, mas eu sempre fui um pouco diferente. Ele é muito apurador, ele é muito ansioso pela busca da informação. Eu sou um pouco mais light nesse caso. Eu gostaria de ter um pouco desse mosquitinho que move o PVC o tempo inteiro pela apuração. Mas eu sou feliz assim.

MC - E a transição até virar comentarista?

LC - A transição foi por acaso. Quando saí da Globo em 2000, era chefe de reportagem e pedi demissão porque estava um pouco cansado. Queria ter mais domingos de folga, mais tempo para a família. Fui trabalhar com minha esposa, numa assessoria de imprensa. Virei até assessor de imprensa do SporTV, mas não me adaptei muito, não curti. Como eu já estava dentro do SporTV, começaram a me convidar pra participar do Redação SporTV. E do Redação, comecei a comentar alguns jogos: campeonato francês, Libertadores... Quando vi, tinha virado comentarista. Fui ganhando espaço e estou lá, feliz. Gosto muito de fazer, gosto de ver futebol o tempo inteiro, conhecer novos times, acompanhar de perto, ir ao estádio. Pra mim está perfeito, estou gostando muito. Vejo meus amigos sempre que posso, amigos de outros estados, está muito legal. Gosto da minha vida como ela é hoje.

MC - Nos momentos de folga, procura relaxar ou assiste muitos jogos?

LC - A gente não folga muito não. Hoje é uma quinta-feira que teoricamente estou de folga (havia trabalhado em Fluminense x Argentino Jrs, no dia anterior). Mas tenho o blog para fazer, aproveitei pra fazer um monte de coisas: levar exame pra médico, já estou pesquisando para os jogos do fim-de-semana, você não pára totalmente. Amanhã estou de folga mas vou pesquisar o dia inteiro, tenho que escrever a coluna para o jornal Extra que sai no sábado... A gente não vai para a TV, mas tem que se preparar para os jogos do fim-de-semana. Eu levo muito tempo me preparando, pesquisando, fazendo súmula, levantando números. Esse início de temporada tem muita novidade. Folga mesmo só nas férias. Agora você não vai ao trabalho, mas trabalha o tempo inteiro. Eu pelo menos sou assim. E eu não consigo imaginar alguns amigos meus do SporTV e de outras televisões folgando. Existe essa necessidade de se informar, de estar por dentro de tudo. Não dá para desligar. Ainda mais com Iphone, com aparelho de celular que você fica conectado o dia inteiro. Eu estou no consultório médico, mas estou no twitter, apurando nos sites. Eu não paro nunca. Não consigo parar.

MC - Como surgiu a idéia do blog? Já acompanhava muitos blogs na época?

LC - Vou te confessar que eu não lia, não. Foi exatamente quando eu tinha deixado de ser assessor de imprensa, em 2005. Fui sair com uns amigos, num aniversário e minha esposa estava junto. Uma amiga dela, que trabalhava no Globo Online (Raquel) me convidou para ter um blog lá. Não sei exatamente qual foi o gancho. Blog não era uma coisa da moda no início de 2005. Estava doido pra voltar a trabalhar com futebol, meio carente... Comecei a fazer. Mas comecei a fazer, como tudo que eu faço, obsessivamente. Eu tinha tempo, não estava trabalhando em outro lugar. Então eu postava muito, respondia todo mundo, me envolvia muito nas discussões, conversava... fiz muito amigo em blog. Quando eu vi era um sucesso, tinha muito acesso. Foi bem natural. Não estabeleci nenhuma estratégia de ação para fazer o blog. Quando eu vi o Globo.com me convidou, fui para lá um pouco antes da Copa de 2006 e estou lá até hoje. Mas hoje já é diferente. Antes eu ligava muito para a audiência, queria saber quanto estava, se estava legal, número de comentários. Hoje não. Sou muito envolvido com meu trabalho na televisão. Eu mantenho, tenho minha política de colaboradores que me ajudam a manter o blog em dia, atualizado, mas eu meio que mudei a minha filosofia. Quando dá a gente faz, atualiza. Ele ainda tem uma boa audiência, mas não é tão estratosférica como era. Eu acho até que esta é uma tendência dos blogs, a audiência cair um pouco. Acho que tem outras ferramentas sociais, outros lugares para as pessoas debaterem. Isso vai se diluindo um pouco. Até o número de comentários hoje não é tão grande porque o cara lê o texto e vai comentar no Twitter, no F
acebook... Ainda acho uma ferramenta legal de interação. Podem até discordar de você, mas se for em alto nível acho que está valendo, acho que esta é a discussão. Eu sou meio viciado em blog. Não tanto quanto era. Já tentei parar de fazer, mas não consigo. Só remodelei minha forma de fazer. Acho que hoje consigo me adaptar bem. Hoje não sou um viciado como era, sou um viciado saudável.

MC - Além do blog, você é um grande usuário do Twitter. De que forma acha que ele acrescenta na sua carreira?

LC - O Twitter é uma coisa natural. Eu tenho muito seguidor no Twitter, mas não sei exatamente o motivo. Não sei se eu falo muita bobagem... Quando vi tinha muita gente. Também não estabeleci estratégia nenhuma para ter 125 mil seguidores. Eu até sigo umas pessoas que não são jornalistas e pessoas jurídicas. Algumas pedem, outras eu me identifico mais, não sendo jornalistas eu sigo também. Eu até sigo muita gente. Eu sigo meios de comunicação, clubes, jogadores... Apesar de brincar muito, convergir socialmente com as pessoas, eu uso o Twitter pra me informar, para pegar informação. Tava agora no consultório médico, mas estava lendo twitts, principalmente de veículos de comunicação. Você fica sabendo coisas do mundo inteiro. Se você clicar no link certo, até vai ler textos densos, de jornal. Basicamente, o que eu curto é que você faz boas amizades, assim como fez no blog, mas eu quero é informação e o Twitter me dá isto. É um veículo que você se diverte, agrega contato, conteúdo, você tem muita informação. Por isso que você acaba seguindo 1700 pessoas. Eu tento me informar através de 1700 fontes. Pode ser um exagero, mas eu sou naturalmente exagerado.

MC - Vamos mudar de assunto e falar de futebol. Qual é o time que mais te marcou até hoje?

LC - Vi o Milan do Gullit, vi o Manchester do início dos anos 90 com o Ferguson. Acho que a Inter do Mourinho foi um time sensacional. No Brasil teve o São Paulo do Telê, Flamengo do Zico, Palmeiras do Edmundo, Atlético do Reinaldo, o Inter do Falcão foi um belo time, o Grêmio de Ênio Andrade. Eu vi grandes times. Mas eu acho que a gente valoriza pouco a nossa época. Não só nós, formadores de opinião, mas torcedores em geral. Hoje em dia estamos em uma fase que podemos não ter um time empolgante assim no Brasil, mas o nosso futebol é até legal. Outro exemplo: o Barcelona do Messi é pouco valorizado por quem é apaixonado por futebol. Falo o Barcelona do Messi, do Xavi, do Iniesta, do Villa, Daniel Alves. É um dos melhores times da história. Sem comparar com A, B ou com C, mas se eu tivesse que falar os 5 melhores times da história, talvez colocasse ele na lista. Entre os 10, com certeza estaria. Acho que a gente tem que valorizar muito a chance de ver este time jogar. É sensacional. Uma forma lúdica, toque de bola. Então eu acho que eu vi grandes times mas hoje a gente vê um time que está aqui, vivo, que é o Barcelona e a gente valoriza pouco isto. Daqui a 20 anos, vou estar com os filhos do pequeno Bob, meus netos, e vou falar que vi o Barcelona jogar, fui ao Camp Nou, era um time sensacional, um dos maiores times de todos os tempos. A gente vai valorizar mais do que hoje. Mas já vi muitos times bons e acho que a gente vai ver muitos outros ainda.

MC - Por falar em valorizar o momento, como vê o retorno de jogadores consagrados como o Ronaldinho Gaúcho ao Brasil?

LC - Em termos de valorização do evento, do espetáculo do futebol brasileiro, é importante você trazer o Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Roberto Carlos, Rivaldo... Mas eu acho que a gente não pode se acomodar com isto. É um movimento importante, um investimento, tentar sair da mesmice, do marasmo. Acho legal isto. Acho que a gente tem que pensar também, que daqui a pouco temos que ter uma outra etapa. Talvez ir lá buscar um jogador de 25 anos, numa fase ainda mais profícua, que possa render ainda mais. Eu acho que esta é uma etapa importante. Os estádios esse ano devem encher mais, o público deve aparecer mais, está animado. O Rivaldo
no São Paulo está muito legal, Ronaldinho Gaúcho no Flamengo nem se fala. Acho que os times estão se reforçando, descobrindo o mercado argentino, sul-americano. Perto do que já tivemos, é muita coisa e já chama a atenção. O Brasil hoje já rivaliza com França e Portugal no mercado. Já temos condição de ir lá pegar um Liédson em Portugal, fazer um investimento. Acho que o Brasil ainda tem caixa para mais coisa, para ousar mais. Investir com responsabilidade fiscal, pensando bem. Pena que nem todos clubes grandes estão nesse pique, tem muito clube ainda em situação complicada. Mas o Brasil está se desenvolvendo em todas as áreas e o futebol é uma extensão disso, cresceu nos últimos anos. Podemos pensar ainda um pouco além disso. Não só em jogadores veteranos, dá pra pensar em algo mais. Tomara que sim.

MC - Dentro desta visão de reforços, quem fez as melhores contratações para esta temporada?

LC - Eu acho que o Santos está com um time muito forte. Depois que o Ganso voltar, o Neymar,
ele vai ficar com um time muito ajustado. Acho que o Flamengo tem condições, apesar de não ter a defesa pronta. A mesma coisa vale para o Fluminense. Acho que os times de Minas: o Cruzeiro continua com um bom elenco e o Atlético está mais encorpado este ano, com mais cara de time. Os gaúchos também...O Corinthians acho que ficou um pouco para trás neste início, o Vasco também. O Botafogo montou um time ainda melhor. Parece até uma tendência a ficar em cima do muro, mas você vê que quase todos os times estão evoluindo, conseguiram fazer um upgrade. O Coritiba manteve a base da Segunda Divisão, o Atlético está tentando se acertar. Mas se eu tivesse que falar um time neste início do ano eu diria o Santos, por mais que ele também esteja escorregando no Campeonato Paulista. Porque ele tem um equilíbrio maior entre defesa, meio-campo e ataque.

MC - Qual sua visão sobre os Campeonatos Estaduais e qual a solução para eles?

LC - Eu detesto Campeonato Estadual. Não tenho nenhum prazer em ver jogo de Campeonato Estadual. Comento porque sou profissional, meu canal transmite e eu faço com o maior carinho, como faço uma Taça Libertadores, me preparo do mesmo jeito. Mas eu acho o nível muito fraco, a motivação dos jogos muito devagar e mesmo alguns clássicos nem valem nada também. Me deprime um pouco quando vejo um clássico em São Paulo com pouca gente, um Gre-Nal em Porto Alegre com times reservas. Não consigo entender exatamente qual o espírito, que resgate da história é este. Não queria acabar com o Estadual. Queria fazer uma coisa menor, como os argentinos fazem: dois meses de pré-temporada, usa ali o Estadual, se elege o campeão no final, uma fórmula mais enxuta. Mas 20 times no Campeonato Paulista, 16 no Carioca, sei lá quantos no Gaúcho... É time demais, jogo demais. Enquanto isto você fica com o Campeonato Brasileiro apertado, Libertadores também toda acanhada, você não consegue fazer o calendário uniforme com a Europa. Mas respeito quem gosta, quem curte. Eu vejo qualquer jogo. Se estiver passando qualquer jogo de Campeonato Estadual eu vou ver, vou me informar, vou anotar, vou escrever. Mas não é a competição que me seduz. Eu vejo porque sou um viciado, mas não é o que eu gostaria de ver.

MC - E quais jogos mais te agradam? Mais te dão prazer em assistir?

LC - Eu gosto de tudo. Não é ficar em cima do muro. Eu gosto de jogos bem transmitidos. Por exemplo: eu adoraria ver o Campeonato Argentino que o SporTV transmite, mas me desagrada um pouco a transmissão. É muito ruim a geração de imagens lá da TV argentina. Isto atrapalha um pouco, mas vejo também. Depende do momento. Eu vejo tudo, desde que minha santa patroa permita quando eu estou de folga no fim-de-semana e o pequeno Bob também. Sempre que eu posso, eu vejo. Mas os que eu mais gosto de ver são os que eu trabalho. A concentração é maior, você está ali só pensando naquilo. Estes eu valorizo mais porque ali acaba unindo prazer com trabalho, com responsabilidade. Eu gosto de futebol de qualquer jeito. Se puder ter uma transmissão boa, melhor ainda.

MC - Só não pode ser no horário da novela...

LC - Eu sou noveleiro. Não vejo todas as novelas não, mas algumas eu vejo. Insensato Coração, eu estou vendo por vários motivos...

2 comentários:

Braulio "xuBs" disse...

Sem dúvida, Lédio Carmona é o melhor comentarista da SPORTV. Um cara que não deixa a influência do eixo RJ-SP prevalecer.

Muito boa a entrevista ! Parabéns Grissi !

:)

Enzo Menezes disse...

Bacana a entrevista! O Lédio é o comentarista a quem mais dou ouvidos ultimamente, muito respeitoso e bem informado.

Quadro Negro

Quadro Negro
O 4-2-3-1 do Fluminense. Pouca mobilidade do setor ofensivo é compensada com "tesão".

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