E no meio dos recordes, das medalhas, dos heróis, no meio, principalmente, dos bilhões de dólares emergentes que fizeram o Comitê Olímpico se jogar por inteiro na ditadura chinesa, como fica a menininha da foto? Ela é Yang Peiyi, 7 anos, dona de uma voz perfeita - e, desgraça, dentes nem tanto. Foi o suficiente para os produtores da festa de abertura limarem a criança do evento planetário, mas sem deixar de aproveitar o que queriam: o canto. Para driblar o que, para esses seres lamentáveis, era feio, foi arrumar uma outra menina, mais bonitinha, Lin Miaoke, a da foto abaixo. Simples assim.
É assim que a banda toca na terra das Olimpíadas. Não serviu, joga fora - e ninguém pode reclamar. Ditaduras têm essa vantagem: os poderosos não precisam sequer dar explicação. Os eventuais traumas causados nas meninas (agora, o mundo inteiro sabe que uma canta bem mas é feia, a outra é bonita mas não sabe cantar) são problema delas e de suas famílias. Jogo jogado. A roda da fortuna olímpica tem de passar, quem estiver pelo caminho é bom sair da frente.
Como os operários das muitas fábricas ultrapoluentes, fechadas para disfarçar a constrangedora concentração de fumaça que enevoa Pequim. Eles ficaram sem trabalho, mas quem se importa? Se ainda fosse para a inauguração de uma nova política ambiental, o nascimento de uma era de bom senso na China que reverberaria em toda a Terra, beleza. Mas não. Volta tudo ao que era na segunda, dia 25, o primeiro dia pós-Jogos. No país mais populoso do mundo, ecologia é coisa de rebelde - pau nele.
É pena, muita pena, ver os espetaculares atletas olímpicos, exemplos comoventes de superação e entrega, envoltos em tal moldura. Eles, apesar de todos os pesares, darão espetáculo. Mas estão sozinhos.
Um comentário:
Dentre as várias 'polêmicas de Pequim', esta pra mim é a mais bizarra.
Postar um comentário